Muitas pessoas que procuram tratamento com um especialista em Ortodontia almejam um belo sorriso, afinal quem não quer ser possuidor disso? Mas o que um Ortodontista precisa saber, tecnicamente falando, para suprir essa necessidade dos pacientes?

Esta resposta não é tão simples. Não basta ter os dentes claros e “alinhados” para definir a estética do sorriso, existem vários fatores que determinam um sorriso harmonioso e bonito, tais como: posição de papila, margem gengival, altura das incisais, entre outros.

UM desses fatores é o corredor bucal, e é sobre isso que escrevo hoje.

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O corredor bucal e a estética do sorriso

O sorriso é a expressão facial mais agradável que podemos ter, e nós – profissionais que trabalhamos com isto – temos que entender os componentes que influenciam a estética do sorriso, que aqui no texto também chamaremos de atratividade.

E o corredor bucal é importante para a atratividade do sorriso, pois ele faz parte do conjunto e caracteriza a perspectiva transversal no rosto de um paciente quando ele sorri.

Antes de eu me alongar na conversa, vamos definir por uma questão de ordem:

Corredor bucal é um espaço existente entre os dentes pré-molares e molares e a bochecha.

E sendo assim, a largura da maxila tem impacto direto no corredor bucal, quanto menor a largura da maxila maior será o corredor bucal e vice-versa. Como nós ortodontistas conseguimos realizar a disjunção maxilar, não é exagero dizer que podemos melhorar um corredor bucal pequeno. Isto é possível quando nosso planejamento inclui corrigir atresias maxilares.

Mas e quando não existe a intenção de tratar a dimensão transversal do paciente? O que podemos fazer se quisermos aumentar este corredor?

“A atratividade (beleza) dentária geral não depende de nenhuma caracterísitca particular da dentição. Vários recursos de forma hierárquica foram estabelecidos como importantes para comporem um sorriso atraente.” Peer assessment of dental attractives. Ong, Brown, Richmond – American Journal Orthodontics and Dentofacial Orthopedics, 2006.

Não podemos abandonar a boa oclusão que desejamos ter ao terminar o caso, e isto pode nos frustrar por não podermos fazer nada que altere o tamanho transversal da maxila.

Do ponto de vista clínico, é importante entender a queixa estética do paciente, se ele for adulto, portador de um grande corredor bucal, sem problema transversal na maxila a ser corrigido, mas querendo melhorar este fator na estética do sorriso, o que podemos fazer?

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São nesses casos que nossa conversa começa a ficar interessante.

É importante saber também o que não fazer, e se não existir problema transversal na maxila, a expansão rápida (disjunção) não é aconselhada!

Ou seja, você não pode planejar uma expansão rápida maxilar com o objetivo único de melhorar o corredor bucal.

Contudo, ainda existem artifícios que nos permitam melhorar este aspecto do corredor.

Para entender isso você precisa saber de 3 aspectos importantes:

  1. O corredor bucal é classificado como aumentado ou largo, médio ou intermediário, e diminuído ou estreito. E vários trabalhos mostram que o corredor bucal médio ou intermediário parece ser o preferido. Muitos destes trabalhos medem a atratividade por meio de imagens manipuladas. Sim, existe uma certa subjetividade nisso, mas precisamos partir de um ponto de referência, então nosso ponto é que o corredor bucal médio é o mais interessante.
  2. O tamanho dos lábios interfere no tamanho do corredor bucal. O fato é que o Ortodontista não consegue modificar os lábios, e isto deve ser entendido como um fator limitante do tratamento ortodôntico. E consequentemente isto deve ser incorporado às expectativas criadas para o prognóstico do caso. Sempre lembrando que às vezes o que seria ideal é uma coisa e o que seria possível fazer pode ser outra. Quanto maior conhecimento técnico e científico você tiver, maior será a clareza no seu olhar.
  3. Deixei por último a melhor notícia, nestes casos onde encontramos limites em modificar o tamanho da maxila, devemos nos atentar para quais outros fatores são importantes para construir uma boa estética de corredor bucal.

E estes fatores são:

– o alinhamento dentário posterior,

– o número de dentes visíveis e

– as inclinações axiais dentárias.

Perceba que é preciso entender que o corredor bucal médio confere mais atratividade ao sorriso do que um corredor bucal grande ou pequeno, assim como é necessário entender que correr atrás de adquirir isto para o paciente muitas vezes não é possível e, numa escala mais subjetiva… talvez não seja necessário. Principalmente se você trabalhar com brilhantismo nos três itens que ressaltei acima.

Existe um trabalho bem interessante do brasileiro Guilherme Janson e colaboradores, publicado em 2011. O objetivo era avaliar vários fatores que poderiam influenciar na atratividade do sorriso.

“Extrações de quatro pré-molares ou tratamentos sem extrações parecem não ter nenhum efeito previsível sobre a estética global do sorriso, o que signifca que, quando bem indicada, a extração é bem vinda e não tem efeito deletério no tratamento ortodôntico. Alguns fatores, como a angulação mediana axial dos incisivos e outros, parecem atingir mais a estética do sorriso, e baseado em estudos atuais, o corredor bucal parece não afetar a beleza do sorriso.” Influence of orthodontic treatment, midline position, buccal corridor and smile arc on smileattractiveness. – Janson G, Branco NC, Fernandes TM, Sathler R, Garib D, Lauris JR. Angle Orthodontics, 2011.

Como devemos proceder se recebermos um paciente com um corredor que percebemos que poderia ser melhor?

Primeiro, devemos entender os conceitos de Estética de Sorriso, depois avaliamos se existe a combinação perfeita de problema e solução: a maxila é atrésica para permitir uma disjunção? Se for, pronto está resolvido.

Contudo, se não for, devemos entender a influência do corredor bucal no sorriso para melhor interpretar se o paciente tem queixas ou não restritas a este espaço. Se a pessoa que procurou um tratamento tiver queixas com o corredor bucal em uma maxila sem problemas transversais, pode ser que este tratamento tenha suas limitações, todavia você deve buscar o primor nos três aspectos que comentei acima (nivelamento, número de dentes visíveis e inclinações axiais). E sempre lembrando que existe uma subjetividade em dimensionar este corredor.

E como trabalharemos estes aspectos? Bem, aí já começamos a entrar na mecânica Ortodôntica e em assuntos mais complexos, os quais comento com vocês dentro de sala de aula. Nos encontramos.